Bancos credores da TAP também podem reverter privatização
Além do Estado, também os bancos credores da TAP podem reverter
a venda da companhia área ao consórcio formado por Humberto Pedrosa e David
Neeleman. De acordo com informações recolhidas pelo PÚBLICO, a resolução
aprovada na passada quinta-feira pelo Governo no seu último Conselho de
Ministros, visou incluir um mecanismo de “dupla garantia” que envolve o Estado
e os credores, ou seja, os bancos que financiam a empresa, entre eles o BCP, o
Deutsche Bank, o BIC, a CGD e o BPI.
Na
prática, o que acontece é que, caso a situação financeira da TAP se agrave após
a maioria do capital passar para as mãos privadas, o Estado e/ou os bancos
podem exigir que a empresa volte para a esfera estatal, ficando novamente a
holding estatal Parpública como garante dos empréstimos. Assim, numa situação
em que o governo em funções esteja, por exemplo, pouco receptivo para voltar a
ficar (mesmo que momentaneamente) com 100% do capital, ou queira dar mais tempo
aos privados para melhorar os rácios da empresa, os bancos podem ditar a
reversão do negócio. Isto se os indicadores em causa comprovarem de forma
objectiva, conforme o que ficou estipulado em Conselho de Ministros, que há
base para essa decisão, com degradação dos créditos concedidos.
Um
exemplo é a situação líquida da transportadora aérea: o consórcio Atlantic
Gateway, de Pedrosa e Neeleman, ficou de aplicar 338 milhões de euros no prazo
de um ano e meio, o que irá melhorar as contas da empresa. No entanto, se o
cenário se degradar ao ponto de a situação líquida ficar pior do que estava no
contexto da privatização, então há factores que podem ser invocados tanto pelo
Estado como pela banca para inverter a venda.Conforme foi anunciado na quinta-feira pelo Governo,
haverá um auditor com a responsabilidade de verificar as contas da TAP todos os
meses, partilhando esses dados com o Estado e com os bancos. Segundo a
secretária de Estado do Tesouro, Isabel Castelo Branco, também haverá um “banco
agente” que controlará o serviço da dívida.
Assim,
todas as partes receberão mensalmente um raio-x à situação financeira da
empresa, o que permite accionar rapidamente, se necessário, as cláusulas de
reversão. Com base neste acordo, os bancos acabaram por aceitar desbloquear o
processo de venda da TAP.
A
passagem da empresa para os privados poderá ser concluída até ao final da
semana que vem (o chamado “closing” do negócio). A partir daí, os novos
investidores começarão a aplicar dinheiro na empresa (269 milhões de euros logo
a seguir à concretização do negócio e quatro tranches trimestrais de 17 milhões
de euros a pagar ao longo de um ano), numa altura em que a transportadora está
com mais dificuldades de tesouraria e se aproxima o pagamento dos salários e
subsídios de Natal.
Dentro
deste timing, a venda da TAP acabaria por ser concluída ainda no quadro de uma
coligação de Governo formada pelo PSD e pelo CDS.
Por
parte do PS, António Costa parecia ter moderado um pouco o seu discurso na
altura da campanha legislativa. No entanto, a oposição à venda de mais de 51%
ainda se mantém bem viva, embora não se saiba como é que isso seria efectuado,
e com que consequências. Este é um tema que está fora do acordo entre o PS e o
PCP e Bloco, já que estes dois últimos querem que a empresa fique a 100% nas mãos
do Estado.
Negócios em risco
Uma história diferente, segundo apurou o PÚBLICO, é a dos transportes públicos urbanos e da CP Carga. Neste caso, há um acordo entre os partidos de esquerda para voltar atrás nas subconcessões aos privados e na privatização da CP Carga. Além disso, o acordo, a anunciar depois de 10 de Novembro, deve conter ainda garantias de que não haverá mais processos de privatizações ou novas subconcessões (como a da Linha de Cascais).
Uma história diferente, segundo apurou o PÚBLICO, é a dos transportes públicos urbanos e da CP Carga. Neste caso, há um acordo entre os partidos de esquerda para voltar atrás nas subconcessões aos privados e na privatização da CP Carga. Além disso, o acordo, a anunciar depois de 10 de Novembro, deve conter ainda garantias de que não haverá mais processos de privatizações ou novas subconcessões (como a da Linha de Cascais).
Até
agora, isso mesmo tinha sido defendido pelo PS, PCP e Bloco, embora com nuances
diferentes. António Costa, por exemplo, elencou o “fim das privatizações das
concessões de transporte colectivo urbanos” como uma das medidas que exigia na
primeira carta que trocou com Pedro Passos Coelho após o resultado das eleições.
E a CGTP, próxima do PCP, tem uma representação significativa nestas empresas
de transporte (exceptuando o caso da Metro do Porto, em que os trabalhadores
são representados pelo Sindicato dos Maquinistas, independente) e mostrou-se
comprometida com os trabalhadores a tentar cancelar estes contratos.
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